“Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém.” Paulo Freire. (pensador.uol.com.br/frases_autonomia_grecia_antiga/)
Aquiescendo ao pedido do Pr. João Marcos Rodrigues Pereira (para escrever as minhas convicções) e já pedindo vênia (palavra popularizada ultimamente) aos contrários a minha opinião, considero, pelas exposições, a possibilidade de movimentar um diálogo profícuo como elemento eliminador de um reducionismo que nos tem aprisionado à péssima herança landmarquista.
Sendo os Batistas oriundos dos separatistas ingleses, grupo de dissidentes saídos do anglicanismo que em 1612 fundou a primeira igreja batista na Grã-Bretanha. Não somos, portanto, um grupo nascido na Reforma Protestante. Adotamos princípios reformados, mas nossa história é diferente da deles. Também é importante afirmarmos que não somos anabatistas. Essa afirmação (tradição anabatista), sob minha ótica, carece de fundamentação histórica.
Tendo a Bíblia como regra de fé e prática, não precisamos nem de catecismo. Sua adoção, ou seja, as confissões de fé, especialmente a de 1689: Confissão de Fé Batista de Londres é na verdade um divisor entre batistas gerais e particulares, apesar da influência da Confissão de Fé de Westminster (1646) e da Declaração de Savoy (1658). Atualmente, com acentuada nódoa para nós batistas brasileiros, vivemos sob a intolerância fundamentalista. Devemos nos lembrar que a autonomia é a nossa marca, nosso sinete.
O vocábulo autonomia (grego autonomía – independência) é, segundo sua definição, a independência de se fazer presente dentro da liberdade moral e ética. Castrar esse ideal é transfigurar a autonomia, é torná-la dependente de alguém, ou melhor, é situá-la na possibilidade única de ser administrativa, mamônica. É criar um céu toldado. É fazer nascer rugas.
Verifico, com tremenda alegria, que esse céu toldado está dando lugar a um céu desanuviado. Ainda bem que no Fórum Eclesiástico uma ruga, parece-me, foi desfeita. Agora, quem sabe, as pastoras tenham o direito de pertencer à Ordem, já que o assunto foi encaminhado para o próximo Fórum (conforme informação). Quebra de um outro reducionismo. Para mim pensar em autonomia requer a avaliação, primeva, da utilidade de se estabelecer um sentido que firme convicção na esfera da própria autonomia como holística, ou seja, sua aplicabilidade democrática. Pois entendo que a preferência pela administração, somente, é superficial, talvez Max Weber, na sua explicação sociológica sobre o Calvinismo, nos leve a considerar a possibilidade de que a predestinação tome ares de capitalismo o que seria, no máximo, máscara. A autonomia é, em essência, pneumática. Rosto sem artifício.
Essa ação pneumática, portanto, tem especificidades: é espiritual, age sob a direção do Espírito Santo no qual o seu sopro é a eficiência; é querigmática, sua proclamação está fixada na aceitação de alteridade; é misericordiosa, uma crítica ao neoliberalismo operador de excluídos e da anulação da esperança, na misericórdia temos a confirmação que a vitória é a autonomia autônoma. Essas especificidades foram defendidas por mim naquela manhã de sábado (17/11). Alisto-as para uma melhor compreensão da minha convicção. Nessa opção, ser pneumático, é utilizar a liberdade própria e não a de outrem para ser exatamente, em essência, um cooperador voluntário. É comungar e dividir os ideais de alteridade presentes nos ensinos de Jesus.
Logo, a autonomia é um atributo (qualidade inerente) doada por Deus a todos os homens. O atributo lhe dá importância e a livra do claustro. É de interesse pessoal, quem é autônomo tem interesse na semeadura da liberdade para todos e não somente para os pares. O interesse pessoal livra a autonomia do hedonismo. Para finalizar é, ainda, uma posse doativa na ação divina. Na posse a autonomia tem crédito. Crédito como veículo instrumental não no valor mamônico, mas no interior que goza paz. A autonomia se carecteriza pelo ato de pensar.
Concluo com uma frase de John Stott: “Deus fez o homem à sua própria imagem, e um dos aspectos mais nobres da semelhança de Deus no homem é a capacidade de pensar.” (Crer é também pensar, pg. 7). Autonomia é pensar com liberdade sem a toldação de ninguém.
Carpe diem.
Pr. Marcos Batista
Pastor e Professor
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