Nunca devemos nos esquecer de que a Cruz é loucura para o mundo, mas para nós é o poder de Deus manifesto
“Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que Ele seja o primogênito entre muitos irmãos” (Rm. 8.29).
Vimos nos estudos anteriores que o propósito de Deus é ter muitos filhos iguais a Jesus, sendo Ele mesmo o modelo e o padrão.
Hoje veremos uma importante característica de vida de Jesus que deve ser desenvolvida na vida do discípulo, através do discipulado: o Princípio da Cruz.
Jesus viveu a sua vida pelo Princípio da Cruz. E isso nos fala de uma completa dependência de Deus. Não interessa mais se algo é bom ou se é mau; se é correto ou pecaminoso; o que interessa saber é se isso se trata da vontade de Deus ou não. O Princípio da Cruz é o processo que nos leva à maturidade. Percebe-se, pela vida de Jesus, que o processo de Deus para tratar com o nosso ego segue certo padrão, uma ordem. Se falharmos em um aspecto, Deus vai repeti-lo até que sejamos aprovados.
Em João 5.19, 5.30 e 8.28 vemos Jesus testificando claramente a sua posição de completa dependência do Pai – é o Princípio da Cruz em operação. Antes de avançarmos nesse entendimento, vamos observar melhor o que é o negar a si mesmo.
1. O negar a si mesmo não é completa anulação da vontade. Isso evidentemente seria impossível; trata-se antes de uma renúncia definida quando “minha” vontade quer seguir outra direção diferente da vontade de Deus. Significa que a vontade de Deus deve prevalecer, e não a minha própria.
2. Negar a si mesmo não é tornar um alienado. Muitos fogem da realidade recriminando, como se tudo estivesse errado e proibido, e criam uma nova filosofia que os leva à loucura. Isso, além de ser perigoso, constitui um sintoma de fuga neurótica; e Jesus nunca disse tal coisa.
3. Finalmente, negar a si mesmo não é a perda do desejo. Quando o desejo se torna concupiscência, ele passa a ser pecado. Mas nós estamos mortos para o pecado, e, portanto, livres do seu domínio. Existem, no entanto, desejos legítimos e bíblicos como o desejo de se casar, ter filhos, pregar o evangelho, salvas vidas, e coisa assim. Vemos, portanto, que a autonegação, proposta por Jesus é, antes de tudo, uma renúncia ao domínio da própria vida, e isso, sem dúvida, em algumas situações, vai implicar em todos os aspectos que mencionamos acima. Haverá momentos de aparente perda da vontade, da aparente alienação, de um também aparente ascetismo, bem como de uma renúncia de um desejo legítimo. Isso acontece em função de que a vida cristã é, em essência, uma contracultura do sistema vigente. Nunca devemos nos esquecer de que a Cruz é loucura para o mundo, mas para nós é o poder de Deus manifesto.
Mas, afinal, sobre o que falou Jesus quando exigiu a negação de si mesmo? Em Lucas 14.25-33, lemos a respeito das qualificações de um discípulo. Dali desprendemos três ênfases essenciais, que juntas formam a base da estrutura do nosso Ego. Como já sabemos que a centralização do Ego está na raiz de todo pecado, podemos dizer então, que estas três ênfases, colocadas por Jesus, estão na base de qualquer ação. Ou seja, qualquer comportamento implicará direta ou indiretamente em uma ou mais destas ênfases.
A primeira ênfase diz respeito aos relacionamentos. Diz respeito à minha necessidade de ser aceito sempre pelos outros; o medo de ser rejeitado; e ainda de viver uma relação qualquer, colocando Jesus em segundo lugar. Negar a si mesmo implica numa renúncia ao amor dos outros. Não que eu não mais queira ser amado, mas que não ficarei doente se isso não acontecer.
A segunda ênfase diz respeito à minha vontade (v. 27). Isso é fundamental para qualquer cristão que conheça a vontade específica de Deus para sua vida. Tomar a Cruz nos fala de tomar a vontade de Deus em detrimento da minha. A cruz nos fala de abrir mão de direitos, de reconhecimentos, de oportunidades e assim por diante.
A terceira ênfase diz respeito à questão dos bens (v. 33). Eu devo renunciar a viver para mim mesmo, e ainda mais, devo abrir mão dos meus bens? Para muitos, o abrir mão de seus bens é bem mais difícil que abrir mão até de si mesmo. Renúncia é morte, e sem a morte o Cristianismo perde o sentido. Não existe Cristianismo sem cruz. Existe apenas religião. O ego deve perder o seu lugar de centralidade, cedendo lugar à vontade de Deus.
(OLIVEIRA, Elvis. Discipulado Fácil. Fortaleza, Premius, 2010, 128 p. Págs. 49-52).
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