Recentemente completei meus trinta e dois anos de idade. Brinco dizendo que agora estou mais próximo do que nunca da “curva dos quarenta”. Na verdade, encontro-me a alguns passos desse marco. Em termos sociais e eclesiológicos, não sei exatamente até quando vão me considerar jovem. Até os trinta e cinco talvez, como tradicionalmente nossas escolas dominicais têm dividido as faixas etárias.
Usando o singular da nossa língua portuguesa, estou ainda em “experiência” nas diversas áreas e assuntos da vida. Fazendo agora o uso do plural, acredito que ainda terei muitas “experiências” a viver, para contar no futuro aos meus filhos, aos meus netos, enfim às futuras gerações. Assim é a vida. Ainda que passageira, ela tem muito valor, ensina-nos muito e amadurece, como ninguém, todos aqueles que se abrem para suas lições e aprendizados. Sim, olhando pelos prismas teórico e prático, sou ainda um jovem. Mas o que é ser jovem ou o que venha a ser juventude?
Entendo que jovem é gente que cedo demais precisou ser referencial para alguém. Como no caso do irmão mais velho que, devido à ausência do pai que se foi com a sua amante, passou a ser o provedor dos irmãos mais novos. Jovem também é gente que, por muitos atropelos na vida ou pela negligência de certas pessoas, ainda não aprendeu que a vida é feita de responsabilidades. Nesse caso jovem é gente que não se deu conta de que em dado momento da vida chegou a hora de “correr atrás”, ficando no passado os bons tempos nos quais alguém, por dever, trazia o sustento para dentro de casa.
Conheço jovens envolvidos com grandes projetos de vida, gerenciando, liderando e no alto de importantes comandos. Grandes administradores que nunca conheceram de perto os grandes problemas da vida. Sei também da existência de jovens administradores de grandes problemas, apesar de nunca terem experimentado o sabor de um sucesso qualquer. Enormes diferenças que não anulam a juventude de ninguém. Todos continuam sendo jovens.
Se para se tornar jovem é preciso completar dezoito anos redondos, comecei a juventude exatamente no dia em que assistia à minha primeira aula de Engenharia Civil. O orgulho não batia mais à porta do meu coração, pois já tinha entrado nele, no dia em que soube da aprovação no vestibular, o meu primeiro e único, na época, diga-se de passagem. Por estar no melhor curso de Engenharia do Mato Grosso do Sul, pensava e sonhava que dali cinco anos o mundo da construção civil conheceria, enfim, o melhor engenheiro civil de todos os tempos. Resumindo a história e como muitos já sabem, não era aquilo que o Senhor planejava para a minha vida. Na prática, aquilo foi uma idealização fruto de um mau planejamento que havia feito. Jovens, principalmente, no início de sua juventude também erram. E como erramos nesse início de fase! Por isso, quatorze anos depois, com tudo que tenho e que hoje sou, conformo-me em dizer que ainda estou em processo de formação. Sim, nossa pré-adolescência e adolescência já se foram. Faz um certo tempo que já passamos dessas fases, mas, apesar disso, nosso aprendizado e amadurecimento sempre serão constantes.
São idas e vindas na vida. Os tempos mudam e os papéis se invertem. A realidade é que muitos de nós, jovens, acabamos por não perceber essas mudanças e essas transições. Outros percebem tudo que acontece de mudanças à sua volta, mas fingem não saber o que aconteceu. Por isso minha afirmação de que os jovens têm entre si características comuns e ao mesmo tempo diferenças de um para outro.
Em nossa juventude somos cobrados e muito questionados. Em muitos casos, copiados pelos que não passaram ainda dos dezoito. Somos criticados pelos que ultrapassaram os trinta e cinco. Nunca nos dão oportunidades ou quando nos dão, acabamos por desmerecê-las devido aos nossos erros e inexperiência. Estamos quase sempre insatisfeitos, indagando e expressando nossa curiosidade. Temos uma certa predileção por assuntos polêmicos. Muitos de nós ainda são movidos por ressentimentos. Sobrecarregados em muitos momentos e por diversos motivos, temos ainda em formação o caráter e a mentalidade. Quando crentes, somos mal compreendidos devido às nossas limitações, divididos que vivemos entre problemas particulares e compromissos da igreja local. A vida passa por um certo frenesi, por possuirmos uma certa ambição por conquistas. Cheios de desafios e repletos de sonhos, acabamos por desafiar aqueles que, com sermões e limites, se mostram a anos de experiência a nossa frente.
Como jovem e na posição de liderança à frente de jovens, minhas experiências até aqui, ainda que muito limitadas, trouxeram-me vários ensinamentos. Os jovens, na verdade, necessitam ser amados, orientados e valorizados. Superando-se os “achismos”, as intolerâncias e os preconceitos, há a preciosa lição de que é possível a unidade em meio à diversidade. No caso, a diversidade de faixas etárias em um mesmo ambiente e a consequente variedade de pensamentos e posturas fruto de tal realidade. Aprendi que é preciso um basta nos contextos em que igrejas locais sempre colocam às margens de todas as suas intenções os jovens a quem, na verdade, deveriam priorizar.
Como jovem e com relação a todos os demais jovens, nossos endereços podem ser diferentes. Porém somos idênticos no conjunto. Somos alvo do amor de Deus, o Pai que Se preocupa com cada um de nós e que fará tudo o que for necessário para a nossa felicidade. Sendo que esse tudo se constitui, em grande parte, aquilo que ainda não aprendemos e aquilo que não conseguiremos, de maneira alguma, realizar sozinhos. É nisso que se resume nossa eterna dependência do Pai que tanto nos ama.
Por mais que tenhamos em nosso currículo erros e desencontros, a garra e a energia, inerentes a todos os jovens, são os elementos que nos fazem prosseguir. Essa é uma das características marcantes de nossa juventude, quando, seguindo a orientação de Salomão, lembramos do Criador em nossa mocidade (Ec 12.1). Só assim aprendemos as lições da superação, apesar dos inúmeros dissabores ao longo da caminhada, ou dependendo do ritmo de cada um, da corrida que é a vida. Regados então pelas promessas e pela vontade soberana do nosso Deus, quão imensurável se torna o potencial de nossa juventude, quando conduzida pela sabedoria do Senhor (Rm 11.33; Is 55.8,9,12; Je 29.11-14b; Fp 4.13).
Nossa grande maioria jovem sonha em chegar ao sucesso. Prevalece em nosso meio o ensino de que sai na frente quem se antecipa aos eventos futuros. Biblicamente, porém, sair e chegar ao final, não importando quais sejam os eventos ou os resultados futuros, é lembrar-se do Criador (Ec 12.1), procurar sempre o equilíbrio (Tt 2.6), fortificar-se na graça que há em Cristo (2Tm 2.1), evitar menosprezos por meio de uma conduta correta (1Tm 4.12), ter a consciência da força, da permanência da Palavra e da vitória sobre o Maligno (1Jo 2.14) e da manutenção de uma vida purificada pelas observação dos preceitos divinos (Sl 119.9). O jovem crente sempre terá visões e perspectivas que jamais o farão esquecer-se dos seus valores e da sua missão (Jl 2.28). Isso, na verdade, é o que faz um jovem ter visão, o que sempre o encaminhará com relação ao futuro. O contrário disso é a ausência de visão, que quase sempre se torna sinônimo de que algo vai se desencaminhar em um futuro bem próximo.
O coração jovem que, muitas vezes, é vacilante e inconstante, passa a ser tranquilizado e amenizado, minimizadas que são as chances de erros e retrocessos quando o assunto é o dia de amanhã. Os resultados vão além. Como jovens compromissados com Deus, todo ambiente onde estivermos e todas as pessoas que nos cercarem serão sempre agraciados com nossa contribuição de vida. Sempre serão enormes as probabilidades de mantermos a nossa felicidade e, também, de contribuirmos para a felicidade de pelo menos uma pessoa que seja.
“Mas os que esperam no Senhor renovarão suas forças; subirão com asas como águias; correrão e não se cansarão; andarão e não se fatigarão” (Is 40.31). Está formada a melhor definição e orientação de como deva ser a nossa juventude. Afinal incontáveis são as possibilidades de ganhos presentes e futuros para o jovem que possui a vida pautada nos valores ensinados por Deus. Ainda que hoje muitos jovens estejam cansados, fatigados e caídos, o que tem nos trazido preocupação e, por vezes, tristezas.
Post scriptum: Ando muito preocupado com alguns líderes que temos colocado à frente de nossos ministérios locais de juventude. Precisamos melhorar muito na exigência de requisitos mínimos nos aspectos éticos, morais, emocionais e, principalmente, espirituais, com relação aos que anseiam pela liderança de nossos queridos jovens.
Pastor da I.B. Ebenézer em Campo Grande/MS
Missionário Mobilizador da JMM
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