Batistas na política
Diz o pastor Alonso Gonçalves que “As relações do protestantismo com a política sempre foram ambíguas. Lutero, por exemplo, não queria uma separação entre igreja e Estado. Já Calvino foi prefeito de Genebra, sendo que para ele a cidade seria uma aristocracia dos eleitos de Deus. Apenas um ramo do protestantismo, o inglês naturalmente, e no meio dele os batistas, sempre pontuou a separação entre igreja e Estado”.
Os batistas têm no princípio da separação entre igreja e Estado uma de suas marcas distintivas. Acontece que a defesa desse princípio nunca significou “omissão e desinteresse pela política”.
Em nosso país, parte do desinteresse se deve ao que aconteceu no período da monarquia, no qual os evangélicos praticamente não tinham direitos. Outros fatores que levaram os protestantes a se omitirem da vida política do país foi e é uma teologia fatalista, como o pré-milenismo. Pregou-se muito sobre o lar no céu e cantaram-se muitos hinos sobre o futuro no paraíso e a consequência de tais ações foi um completo desinteresse pelo aqui e agora, pela vida cotidiana e suas mazelas e enclausuramos a igreja dentro dela mesma! A igreja se esqueceu de que todo ato humano é ato político e desassociou o discurso bíblico da realidade política e social do país. A igreja, quando deveria se manifestar, se calou, foi conivente e até mesmo entregou teólogos, porque tinham um discurso “subversivo” demais para a igreja, ao regime militar.
Muito se ouve sobre a Igreja Católica e sua estreita relação com o Estado. É verdade! A própria Igreja Católica é um Estado. Mas nem por isso eles deixam de atuar politicamente no país. Recentemente, o Congresso Nacional aprovou o Projeto da Ficha Limpa, iniciativa da CNBB que arrecadou mais de um milhão de assinaturas para o projeto entrar em discussão na Câmara dos Deputados e ser aprovado, impedindo assim que diversos candidatos com processos, até mesmo criminais, se candidatassem.
Estou acompanhando candidatos batistas. É salutar a iniciativa, até porque algum tempo atrás se ouvia muito nas igrejas a seguinte afirmação: “Crente não se mete em política”. Enquanto esse discurso predominou, muitos entraram nas esferas do poder e não representaram, como deveriam, o povo.
É legítimo pleitear uma vaga, quer em nível municipal, estadual ou federal. Uma das coisas que gosto na Declaração Doutrinária da Convenção Batista Brasileira é o item Ordem Social, que diz: “Como sal da terra e luz do mundo, o cristão tem o dever de participar em todo o esforço que tende ao bem comum da sociedade em que vive”. Uma dessas formas de buscar o bem comum da sociedade é ver a política como ferramenta. Aliás, ela é a única ferramenta de transformação numa sociedade democrática que tem no sistema de governo republicano a eleição de representantes. Portanto, nada mais natural do que servir à população com um mandato sério e competente.
O que se espera de candidatos, batistas, naturalmente, é que façam valer o voto não para defender interesses corporativos, muito menos com um discurso de que “tem que ter gente nossa lá”. Temos que ter candidatos com diferencial. O candidato batista precisa ter em mente que o seu mandato irá contribuir para o avanço dos valores do Reino de Deus na sociedade e que a sua governabilidade é para todos, e nunca, em hipótese alguma, para batistas, mas para uma sociedade que necessita de atuações honestas e competentes. Somente assim é possível justificar apoio, do contrário será mais um tentando usar da política como trampolim para o poder, para o foro privilegiado, para os benefícios enormes que a classe política de nosso país usufrui.
Segundo o princípio que observamos, igreja e Estado são distintos, mas devem colaborar entre si, o Estado deve garantir a liberdade religiosa e não embaraçar as atividades da igreja e esta deve influenciar, positivamente, o Estado com seus valores. E falando em participar com valores, divulgar o nome de nossos candidatos é uma das formas de contribuir, além de acabar com mitos nocivos em nosso meio.
O pastor Natanael Menezes da Cruz diz o seguinte: “Todos, de sã consciência, achamos que precisa haver mudanças na política, na economia, na justiça, na distribuição de renda, na saúde, na educação, na religião, e na moral”. E ele diz que “é tempo de participar dessas mudanças” e que “o instrumento para que elas aconteçam é o nosso voto”. Isso significa participação.
Carlos Osmar Trapp, Pr. (OPBB/3650)
Presidente do Grupo Evangélico
de Ação Política (GEAP)
Nota: O título e parte do texto, tomei emprestado de um artigo publicado em O Jornal Batista (acesso para assinantes).
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